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Pelos mesmos direitos dos policiais de fecharem trânsito sem tomar uma bala de borracha

Pelos mesmos direitos dos policiais de fecharem trânsito sem tomar uma bala de borracha

Maurílio Júnior

Na última sexta-feira, João Pessoa foi palco de uma manifestação das forças de segurança do Estado da Paraíba. Policiais civis e militares tomaram as ruas para cobrar um reajuste salarial superior aos 5% anunciados pelo governo estadual. O protesto bloqueou trechos da Avenida Beira Rio e da Avenida Epitácio Pessoa, duas das principais vias da capital, causando transtornos ao trânsito. No entanto, a manifestação ocorreu sem qualquer repressão policial – o que, aliás, era de se esperar, visto que se tratava de um protesto dos próprios agentes da lei.

O ponto a ser discutido aqui, porém, vai além das reivindicações da categoria. A questão central é o direito à manifestação e a forma como ele é garantido (ou não) para diferentes grupos da sociedade. Em março de 2023, cobri uma manifestação de estudantes que protestavam contra o aumento da passagem de ônibus em João Pessoa. Eles não tiveram a mesma sorte. O ato, que também bloqueou vias dos Bancários, foi reprimido com violência pela polícia, que usou balas de borracha e força excessiva para dispersar os manifestantes.

A discrepância no tratamento das manifestações revela um viés preocupante. Quando policiais protestam, a obstrução do trânsito é vista como um direito legítimo. Mas quando estudantes, professores ou qualquer outra categoria faz o mesmo, a resposta do Estado pode ser dura e desproporcional. Esse duplo padrão não pode ser normalizado. O direito à manifestação é um pilar fundamental da democracia e deve ser garantido a todos, independentemente de quem esteja protestando.

Se os policiais podem ocupar avenidas e interditar o tráfego para reivindicar seus direitos, o mesmo deve valer para qualquer outro grupo da sociedade civil. Caso contrário, estaremos diante de um sistema seletivo de garantias democráticas, onde o direito ao protesto depende da farda que se veste. E isso, definitivamente, não é aceitável.

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