Exoneração de Ludmilla Dantas expõe bastidores de perseguição, misoginia e influência pessoal na SECTIES

Cidades Educação Paraíba

Por Márcio Serafim

A publicação da exoneração da advogada Ludmilla Dantas Silva no Diário Oficial do Estado, em 7 de maio, poderia passar como uma simples mudança administrativa na Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (SECTIES). Mas os bastidores revelam uma trama que envolve perseguição, desgaste emocional, misoginia e, principalmente, a interferência de conflitos pessoais nas decisões públicas.

Ludmilla, que ocupava os cargos de gerente de administração e chefe de gabinete do secretário Cláudio Furtado, não foi apenas desligada. Ela foi alvo de um processo gradual de desidratação institucional e isolamento funcional, culminando em sua saída, comemorada publicamente com ironias pela esposa do secretário, Cris Furtado, nas redes sociais.

Uma profissional rigorosa e competente

Fontes ouvidas pela reportagem, que trabalharam diretamente com Ludmilla, destacam seu perfil técnico, ético e extremamente comprometido com a legalidade. “Ela sempre foi austera, correta. Era chamada de ‘Dama de Ferro’ pelo rigor com que seguia os preceitos legais, jamais cedendo a pressões políticas ou pessoais”, afirmou uma ex-colega que preferiu não se identificar por medo de retaliações.

Ludmilla esteve envolvida desde a concepção da SECTIES, após o desmembramento da antiga Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia. Sua atuação foi essencial na estruturação da nova pasta. Mas esse protagonismo, combinado com sua juventude, competência e postura firme, passou a incomodar.

Um ambiente tóxico alimentado por vaidades

Segundo relatos internos, Ludmilla enfrentava resistência de figuras com acesso direto ao secretário e à sua esposa. “Qualquer negativa da GAD, mesmo quando respaldada por vícios de procedimento ou ilegalidade, era tratada como afronta pessoal. Criou-se um ambiente onde egos frágeis e disputas veladas começaram a prevalecer sobre o bom senso administrativo”, contou a fonte.

Com o tempo, a exclusão foi sistemática. Reuniões importantes deixaram de contar com sua presença, ordens deixaram de ser repassadas, e subordinadas passaram a ser convocadas à revelia de sua chefia. Um movimento claro de esvaziamento de sua autoridade — e, segundo a fonte, não apenas institucional: “Foi um processo cruel, e com um nítido viés de gênero. Ludmilla sofreu sim por ser mulher, jovem, bonita, e competente.”

Ataques velados e difamações

Além da perseguição funcional, Ludmilla passou a enfrentar ataques pessoais. Sua rotina saudável, como frequentadora de academia, foi alvo de comentários maldosos. Chegou-se a espalhar uma falsa história de que ela seria amante do secretário, boato que rapidamente se alastrou por outras secretarias.

O desgaste emocional culminou no adoecimento da servidora. Diagnosticada com burnout e depressão, Ludmilla foi afastada de suas funções. “Ela suportou muito calada, sem fazer drama. Mas quando a história da suposta relação começou a circular, aquilo a destruiu por dentro”, relatou a ex-colega, com visível indignação.

A comemoração da queda

A exoneração, assinada pelo governador João Azevêdo (PSB), ganhou contornos ainda mais delicados com a postura pública de Cris Furtado, esposa do secretário. Em suas redes sociais, ela comemorou abertamente a demissão, com frases e termos pejorativos que foram apagados após repercussão negativa.

Mesmo assim, postagens anteriores evidenciam uma animosidade antiga e direta contra Ludmilla, com indiretas públicas e mensagens carregadas de desdém. O silêncio do secretário Cláudio Furtado diante dos ataques e da exoneração agrava ainda mais a percepção de que a saída da advogada se deu sob influência direta de um conflito pessoal e familiar.

Quando o ciúme vira ato administrativo

“O ciúme é um mal de raiz”, escreveu Vinícius de Moraes na música Medo de Amar. Na SECTIES, esse mal rompeu os limites do campo afetivo e se traduziu em decisão administrativa. A exoneração de Ludmilla Dantas Silva escancara o quanto relações pessoais e conflitos domésticos ainda conseguem influenciar decisões de Estado — um grave desvio ético na administração pública.

Ludmilla é servidora concursada, possui sólida formação em Direito e gestão, e teve papel central na organização de uma das pastas mais estratégicas para o desenvolvimento da Paraíba. Sua saída, longe de ser uma readequação, representa um ataque à integridade institucional e à presença feminina nos espaços de liderança.

O que está em jogo

Não se trata apenas de defender Ludmilla — embora ela mereça reparação e reconhecimento. Trata-se de chamar atenção para o risco de se permitir que estruturas públicas sejam moldadas por vaidades pessoais, ciúmes e ressentimentos. Quando o aparato estatal se curva a disputas afetivas, perde-se o princípio da impessoalidade e abre-se margem para perseguições disfarçadas de gestão.

Ludmilla não foi demitida por incompetência. Foi descartada porque incomodava. E isso, infelizmente, ainda é o destino de muitas mulheres que ousam ocupar seu espaço com firmeza, competência e autonomia.

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