O esplendor apresentado pelo Brasil a partir de meados de 1960 é inegável. Foi um período marcado por grandes conquistas, com um crescimento imune a qualquer negacionismo daquele período. O saudosismo é forte em relação àquela época — quando éramos respeitados mundialmente; hoje, o patriotismo é totalmente deixado de lado, e os valores minguam à mercê de ilusões e derrotismo. Infelizmente, eles acertaram na previsão: viramos uma Venezuela.
Vinte e quatro anos. Foi o tempo que o Brasil levou para reafirmar seu protagonismo no futebol global. Em 1994, enquanto um herói expirava em luta com as cores do país em uma pista italiana, outros surgiram para restabelecer o que nunca deveria ter sido alterado: as cores de nossa bandeira hasteadas no mais alto lugar de um pódio. Há os que questionam o futebol apresentado, por uma análise exigente e que enxerga friamente resultados, como o das oitavas contra os Estados Unidos, ou mesmo contra a Suécia nas semifinais. Tolice. O Brasil era novamente temido, e a sequência foi arrasadora: um vice em 1998 e mais um título em 2002.
E passou. Do nosso último título até aqui são mais vinte e dois anos. A diferença é que, no interstício maior, primeiro tivemos as esplendorosas seleções de 1982 e 1983; deste último, apenas fagulhas de bons times — e nada mais. Caímos na vala comum, a bem da verdade. Antes, como em 1970, tínhamos o privilégio de ter cinco camisas 10 de times na formação do meio para frente, quais sejam, Gérson, Rivelino, Tostão, Jairzinho e o Rei — que deve estar lamentando não apenas pela situação atual de sua seleção, mas também pelo gigante Santos. Hoje, a dependência recai sobre um superstar que atua como atleta. De resto, muitos são comuns e alguns questionáveis, principalmente para os padrões nacionais; um amontoado randômico de amarelo, às vezes.
Perdemos a Copa América em casa para a Argentina. A tristeza só foi minorada porque a pandemia impediu que o estádio estivesse com torcida. Ato contínuo, fomos eliminados pela Croácia ainda nas quartas de final da Copa do Mundo. Nos últimos três jogos das Eliminatórias, acumulamos três derrotas: para Uruguai e Colômbia fora de casa; e para a Argentina em pleno Maracanã, novamente — a primeira derrota em nosso território na história da competição. Com essas “façanhas”, o desinteresse cresceu. É nítido o desapego do torcedor para com a Seleção Brasileira atualmente, quando mal se sabe quando há jogos ou torneios a disputar. Reflexo dos tempos, infelizmente.
A pá de cal foi a patacoada com Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid. Com a saída de Tite, anunciou-se aos quatro ventos que ele seria o sucessor no comando da seleção canarinho. Enquanto isso, Fernando Diniz, cujo maior feito como treinador até então era ter conquistado um campeonato estadual pelo Fluminense, com seu estilo autêntico de infartar torcedores com um toque de bola perigoso na defesa, foi efetivado como interino. Após um período reflexivo, o italiano optou pela permanência nos merengues, com a preterição vexaminosa ao Brasil. Uma vergonha a mais não mata ninguém, afinal. Dado o histórico recente, uma opção que se mostra inegavelmente inteligente de Ancelotti.
À espera, a Confederação que depôs seu presidente agora aguarda por talvez uma solução Deus ex machina. Para não ficar por baixo, talvez traga um outro estrangeiro — Abel Ferreira e Mourinho seriam as preferências. Independentemente da escolha, o Brasil, que ocupa atualmente a sexta posição nas Eliminatórias da Copa, expande sua fase de baixa para o mundo todo acompanhar. Oxalá não fique de fora do próximo mundial, dados os riscos iminentes e visíveis. É inegável que estavam eles certos: o Brasil vive tempos de Venezuela. Os brasileiros esperamos, no entanto, que passe logo. E que seja breve essa eternidade agonizante de vacas magras futebolísticas. Já não aguentamos mais, pois.
Revista Bula