O primeiro grande teste para a mudança feita por Lula na comunicação do governo começa nesta quinta-feira, com o evento em que o presidente fará um balanço de dois anos e três meses de mandato. As linhas lançadas no evento, batizado de “Brasil dando a volta por cima”, também aparecerão em campanhas publicitárias que serão lançadas para reforçar as marcas de vários programas federais.
A ideia é mostrar o impacto de ações do governo no dia a dia das pessoas. A percepção do Planalto é que as pessoas não conhecem muitas das conquistas desses dois anos, seja por falha na hora de comunicar, seja por uma certa predisposição contrária ao governo do PT.
A proposta é traduzir dados em imagens de impacto. Por exemplo: ao falar sobre a saída do Brasil do Mapa da Fome, o evento vai ilustrar os números dizendo que o governo tirou da fome o número de pessoas equivalente a “um estádio de futebol lotado por dia”. Ao apresentar o Pé de Meia, o governo vai cravar que a poupança do ensino médio atinge 4 milhões de pessoas, o que representa “uma Brasília e meia” em número de pessoas.
Pesquisa Quest divulgada justamente na véspera do anúncio foi a pior para Lula até aqui. Pela primeira vez, seu governo foi considerado pior que o de Jair Bolsonaro, opinião expressada por 43% dos ouvidos. Nada menos que 81% dos entrevistados disseram que Lula deveria fazer um governo diferente do que vem fazendo. Pela primeira vez, a maioria expressou a avaliação de que o presidente não é bem intencionado na forma como governa. Para 56%, o Brasil vai na direção errada, 50% avaliam que as aparições do presidente pioram as coisas e 71% dizem que Lula não consegue cumprir as promessas de campanha. Uma má notícia atrás da outra.
Martelar o que já vem sendo feito, como é a proposta do evento desta quinta, pode não resolver o problema, alertam especialistas em pesquisas. Segundo um deles, comunicar melhor um governo considerado ruim pode ter um resultado pior. O governo parece pouco receptivo à ideia de que 81% acham que Lula precisa fazer diferente –ou então não faria um anúncio orgulhoso do que está sendo feito.
Integrantes do primeiro escalão reconhecem o problema, mas fazem ponderações: acham que o pior momento foi entre meados de fevereiro e os primeiros 15 dias de março (crises de preço dos alimentos, do mal entendido do Pix e da explosão da alta do dólar), e que as medições diárias do próprio governo são semelhantes às da Quest, mas que apresentam estabilidade nos últimos dias (Lula teria parado de cair).
As campanhas de publicidade vão tentar fazer com que as marcas que Lula procurou criar cheguem à população. Devem ser objeto das primeiras campanhas o próprio Pé de Meia e o Farmácia Popular, um a grife dos mandatos anteriores que é considerada com grande potencial, pelo fato de fornecer medicamentos de graça.
O Globo