Por Luiz Roberto Marinho
“O ciúme é um mal de raiz”, escreveu o poeta Vinícius de Moraes na música “Medo de Amar”. Na Paraíba, esse mal ultrapassou o campo afetivo e virou ato administrativo oficial. A edição de 7 de maio do Diário Oficial do Estado trouxe a demissão da advogada Ludmilla Dantas Silva de dois cargos de confiança na Secretaria de Ciência e Tecnologia, onde atuava como gerente de administração e chefe de gabinete do secretário Cláudio Furtado.
O que deveria ser apenas uma alteração funcional ganhou contornos pessoais e escancarou um conflito doméstico. A esposa do secretário, Cris Furtado, comemorou abertamente a exoneração nas redes sociais, utilizando termos pejorativos que foram apagados após repercussão. No entanto, postagens anteriores deixam clara uma antiga animosidade contra Ludmilla, com indiretas públicas e ataques velados.
O que os atos não explicam — mas os bastidores confirmam — é que Ludmilla foi vítima de uma campanha de ciúmes que atravessou os limites da vida pessoal e invadiu o serviço público, culminando numa exoneração que levanta dúvidas sobre os critérios éticos e institucionais por trás da decisão.
Profissional competente e respeitada
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Ludmilla é reconhecida nos bastidores da Secretaria como uma profissional dedicada, discreta e extremamente técnica. Advogada com sólida formação, sua atuação sempre foi pautada pela ética, espírito público e responsabilidade institucional. Ela exerceu funções estratégicas com excelência, contribuindo diretamente para projetos relevantes da pasta.
Sua demissão, longe de ser uma simples troca administrativa, levanta um alerta sobre a influência de pressões pessoais no ambiente público. Quando relações afetivas interferem na política de nomeações e demissões, a impessoalidade do serviço público é ferida — e servidores sérios acabam sendo vítimas.
Esposa x ex-assessora: o caso exposto nas redes
Cris Furtado, ex-vereadora e atual chefe da assessoria de imprensa do diretório do PSB em João Pessoa, tem usado suas redes sociais para publicar frases que, embora não citem diretamente nomes, são lidas por muitos como direcionadas à ex-assessora do marido. O tom de desdém e ressentimento pessoal foi cristalizado na comemoração pública da exoneração, algo que gerou desconforto dentro e fora da pasta.
Em meio ao episódio, o silêncio do secretário Cláudio Furtado chama atenção. Apesar das manifestações da esposa, ele manteve o nome de Ludmilla em cargos de confiança até a publicação oficial do ato de exoneração, assinada pelo governador João Azevedo (PSB).
Um alerta sobre os limites do poder
O caso expõe uma situação preocupante: o uso do aparato institucional para resolver conflitos afetivos privados. Ludmilla Dantas Silva, além de não merecer a forma com que foi tratada publicamente, deveria ter sua trajetória funcional respeitada. Seu desligamento, nesses moldes, representa não apenas um prejuízo pessoal, mas uma injustiça que precisa ser debatida com seriedade.
A presença de mulheres competentes em espaços de liderança precisa ser defendida, especialmente quando atacadas de maneira misógina e leviana. O poder público não pode compactuar com perseguições travestidas de decisões administrativas.


