Por Portal News PB
O cenário político no Brejo paraibano tem revelado uma face amarga da disputa pelo poder: a ascensão de figuras públicas que, ao conquistarem cargos de destaque, deixam para trás os aliados que foram fundamentais para suas vitórias nas urnas. A prática, embora antiga, ganhou novos contornos em meio ao acirramento político, ao oportunismo e à centralização das decisões em pequenos grupos familiares ou de confiança pessoal.
Em diversas cidades da região — como Guarabira, Mulungu, Marcação, Pilõezinhos e outras — é crescente o número de relatos sobre ex-aliados sendo escanteados de cargos, afastados das decisões ou até publicamente ignorados, mesmo após terem sido peças-chave em campanhas e articulações que resultaram em vitórias eleitorais expressivas.
Em muitos casos, os compromissos firmados em época de campanha — como cargos, parcerias, espaço político ou reconhecimento — são desfeitos logo após a conquista do poder. O discurso da gratidão é substituído pelo pragmatismo político, que prioriza a fidelidade pessoal, o silêncio diante de erros administrativos e, em alguns casos, o parentesco.
Aliados históricos relatam que não há espaço para opiniões divergentes. Quando alguém do grupo original discorda de uma decisão ou cobra coerência de quem está no poder, acaba sendo isolado, criticado ou até perseguido politicamente. “Hoje em dia, ser fiel não basta. É preciso ser submisso”, desabafa, sob anonimato, um ex-secretário de um município brejeiro.
Um fenômeno cada vez mais comum é a formação de núcleos familiares no poder, onde cargos são ocupados por irmãos, sobrinhos, cônjuges e afins — em detrimento de pessoas com história de luta política real. Isso fere não só o princípio da meritocracia, mas também a ética pública, pois transforma o serviço público em um patrimônio de família.
Um caso recente foi registrado em Marcação, onde, conforme documentos obtidos pelo Portal News PB, tanto um secretário municipal quanto sua irmã aparecem como contratados da Prefeitura e da Câmara Municipal, respectivamente, somando mais de R$ 38 mil em pagamentos públicos apenas no primeiro trimestre de 2025. Enquanto isso, antigos apoiadores reclamam de abandono e silêncio da gestão.
O resultado dessa política de exclusão é o enfraquecimento dos próprios grupos políticos. Ao afastar os que ajudaram a construir a base de apoio e a dar sustentação nas ruas, nas redes e nas urnas, muitos gestores perdem capilaridade, perdem identidade e, com o tempo, perdem também a credibilidade.
Algumas lideranças locais já sentem esse impacto. Em cidades como Pilõezinhos e Sobrado, por exemplo, ex-candidatos a vereador e antigos articuladores passaram a se afastar de seus antigos grupos e, em alguns casos, declararam apoio a adversários ou decidiram disputar cargos em grupos distintos nas próximas eleições.
Se antes a troca de aliados por conveniência passava despercebida, hoje os eleitores acompanham mais de perto os bastidores políticos. Redes sociais, grupos de WhatsApp e portais de notícias regionais ampliaram o alcance das informações e criaram um ambiente onde a falta de gratidão, a centralização de poder e o descumprimento de promessas passam a ser cobrados publicamente.
Esse novo cenário exige dos gestores mais do que obras e discursos: exige coerência, gratidão e compromisso com quem construiu o caminho até o gabinete.
A busca por mais poder, a qualquer custo, tem revelado o lado mais ingrato da política brejeira. Em muitos municípios, quem ajudou a colocar políticos no cargo agora se vê fora dos espaços de decisão — enquanto o poder se concentra nas mãos de poucos. O Portal News PB seguirá acompanhando essas movimentações e dando voz a quem, mesmo fora do palco principal, ainda luta por uma política mais justa e fiel às suas origens.