Esquadrão da Morte: 42 assassinatos marcaram Guarabira e viraram caso de TV

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Entre 1984 e 1987, a cidade de Guarabira, no Brejo paraibano, enfrentou uma onda de violência sem precedentes. Um grupo de extermínio formado por policiais militares, conhecido como Esquadrão da Morte, foi responsabilizado por 42 assassinatos, deixando a população em estado de pânico. O caso ganhou tamanha repercussão que anos depois foi tema do programa Linha Direta, exibido em rede nacional sob a apresentação de Marcelo Rezende.

O início do terror

Nos dois primeiros anos de atuação, o Esquadrão da Morte tirou a vida de 38 moradores de Guarabira. As mortes, inicialmente justificadas como combate a pequenos furtos, rapidamente se transformaram em execuções indiscriminadas.

Um dos primeiros crimes que chocou a cidade foi o de Gilson da Silva Lira, conhecido como Mineirinho, morto em 3 de novembro de 1986. Ele dormia em um banco da praça quando foi surpreendido por um homem de capa preta, capuz e luvas, que disparou três tiros.

Outro caso emblemático foi o de José Augusto Serafim, taxista e pai de sete filhos, executado com seis disparos. Sua morte aconteceu apenas porque passava no local errado, no momento em que o grupo realizava outra execução.

A escalada das mortes

A violência não poupou trabalhadores. O caminhoneiro Edgar Bezerra foi morto em um crime por encomenda. A tragédia se estendeu à sua família: o pai de Edgar, revoltado, passou a denunciar os criminosos e acabou assassinado dentro da própria casa um ano e oito meses depois.

As execuções também recaíam sobre jovens acusados de pequenos furtos conhecidos como “lanceiros” que, segundo testemunhas, apareciam mortos semanalmente. Muitos eram detidos diversas vezes, mas, em vez de responderem judicialmente, acabavam eliminados nas ruas.

As mortes traziam sinais de intimidação. Em um dos casos, o dedo de uma vítima foi decepado, acompanhado de um bilhete que dizia: “para nunca mais você apontar ninguém”.

 

Medo e silêncio em Guarabira

A rotina da cidade mudou. Às 18h, moradores já estavam recolhidos em casa. Escolas e bares fechavam mais cedo e as ruas ficavam desertas. O mito do “homem da capa preta” espalhou pavor, reforçado por relatos de moradores que ouviam tiros seguidos de gargalhadas — os assassinos atiravam e riam.

O cemitério local, pequeno para a demanda, passou a abrir covas de forma antecipada. O Padre Francisco Adelino dos Santos relatou ter ouvido de um coveiro que sete sepulturas estavam prontas porque “mais gente estava encomendada para morrer”.

 

A ausência do Estado e a atuação da Igreja

Guarabira passou anos sem juiz, promotor ou delegado. Esse vazio institucional abriu espaço para a violência prosperar. A Igreja Católica, liderada pelo Padre Adelino e por Dom Marcelo Carvalheira, assumiu a denúncia pública dos crimes e a defesa da população.

Segundo Padre Adelino, sua função extrapolava o sacerdócio: “não sei se eu era promotor de Justiça, juiz ou delegado”, relatou.

 

O grupo revelado

As investigações apontaram que os próprios policiais que consolavam famílias nas cerimônias fúnebres eram os responsáveis pelas mortes. O grupo era liderado pelo capitão da Polícia Militar Givanildo Fernandes da Silva, e tinha entre os principais executores os soldados Gilberto Pacífico da SilvaRonaldo Clementino da Silva e Antônio Fidélis Anselmo.

Os quatro foram expulsos da PM e presos preventivamente. O Ministério Público passou a denunciá-los por dezenas de homicídios.

 

A expansão do terror

Com o tempo, os crimes se espalharam para cidades do Agreste. Além de executar pequenos criminosos, o grupo passou a realizar assassinatos sob encomenda, ampliando a lista de vítimas. O número de mortos chegou a 42 em três anos, segundo estimativas.

 

Prisões, fugas e novos assassinatos

O capitão Givanildo conseguiu fugir em 1986, escalando o muro do quartel do Corpo de Bombeiros, em João Pessoa. Recapturado 13 anos depois em Minas Gerais, foi condenado a 111 anos de prisão. Morreu em 2009, debilitado por doenças, no Presídio Especial de Mangabeira, em João Pessoa.

O soldado Antônio Fidélis Anselmo, condenado pelo assassinato de Mineirinho, cumpre pena no Presídio do Roger.
Ronaldo Clementino da Silva segue preso, condenado a mais de 100 anos.
Já Gilberto Pacífico da Silva não sobreviveu: em 2009, saiu da penitenciária no regime semiaberto e foi executado junto a um companheiro de cela.

O caso na TV

A brutalidade dos crimes e a atuação dos policiais chamaram atenção nacional. O caso de Guarabira foi retratado em um episódio especial do programa Linha Direta, apresentado por Marcelo Rezende, que detalhou os assassinatos, a fuga de Givanildo e a atuação do Esquadrão da Morte. A exibição expôs para todo o país o período de medo vivido pela população paraibana.

As mortes de Gilson Lira (Mineirinho)José Augusto SerafimEdgar Bezerra, o pai de Edgar, além de dezenas de jovens e pais de família, somaram ao menos 42 vítimas atribuídas ao Esquadrão da Morte.

A cidade de Guarabira ficou marcada por esse capítulo de sangue, em que policiais, que deveriam garantir a segurança, se tornaram agentes do terror. Décadas depois, moradores ainda evitam falar sobre o período, temendo represálias. O episódio permanece como uma das páginas mais sombrias da história da Paraíba  e ganhou visibilidade nacional com sua reconstituição no Linha Direta, sob a condução de Marcelo Rezende.

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