Família de Ana Sophia pede reabertura da investigação: ‘não tive chance de sepultar o corpo’

Cidades Paraíba

Dois anos após o desaparecimento da menina Ana Sophia, de 8 anos, no município de Bananeiras, na Paraíba, a família pede a reabertura do inquérito que investigou o caso. A Polícia Civil concluiu as investigações com a morte do principal suspeito, Tiago Fontes, mas o corpo da criança nunca foi encontrado, e os pais cobram que o caso volte a ser apurado.

João Simplício e Maria do Socorro, pais da menina, afirmam que não concordaram com o arquivamento do inquérito policial e querem que novas diligências sejam realizadas. “Eu peço, em nome do Senhor Jesus, que ele releia esse inquérito. Tenho fé em nosso Senhor Jesus Cristo que eles vão ver, porque tem gente ali, aqueles depoimentos que precisavam ser ouvidos novamente”, afirmou a mãe.


				
					Família de Ana Sophia pede reabertura da investigação: 'não tive chance de sepultar o corpo'
Mãe de Ana Sophia, Maria do Socorro, lamenta nunca ter conseguido sepultar a filha. Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

O Ministério Público da Paraíba (MPPB) recebeu o pedido da família e avalia se há justificativa legal para recomendar a reabertura do caso. Caso o parecer seja favorável, caberá à Justiça decidir se a Polícia Civil deve retomar ou não as investigações.

Segundo as investigações, Ana Sophia foi vítima de um crime premeditado, com motivação sexual. O inquérito policial foi encerrado, mas o conteúdo do relatório permanece sob segredo de justiça.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que o caso foi devidamente elucidado e que a investigação foi conduzida com rigor técnico, resultando na produção de provas periciais e testemunhais, que tornaram possível a identificação do autor do crime.

Ainda segundo a polícia, diversos recursos investigativos e tecnológicos, contando ainda com o apoio da Polícia Federal, contribuíram com elementos periciais relevantes. A Polícia Civil também informou que o relatório final foi acolhido pelo Ministério Público, que determinou o arquivamento do caso, considerando a solidez das provas reunidas.

A angústia dos pais se mantém com o passar do tempo. Sem saber o paradeiro da filha e sem ter o direito ao sepultamento, a família relata um sofrimento que não cessa.

“A pessoa não sabe realmente o que aconteceu, é o que mata, é o que mata. Porque Tiago Fonte está morto, a família para lá sabe onde ele está sepultado. E eu? E eu que não tive nem chance de sepultar o corpo da minha Ana Sophia”, lamenta a mãe.


				
					Família de Ana Sophia pede reabertura da investigação: 'não tive chance de sepultar o corpo'
O pai de Ana Sophia, João Simplício, pediu a reabertura das investigações. Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

Advogados apontam falhas e pedem novas diligências

A defesa da família questiona a condução da investigação e aponta falhas na apuração inicial. Os advogados afirmam que várias pistas e informações relevantes deixaram de ser consideradas, e defendem a abertura de novas linhas investigativas, além da reoitiva de testemunhas.

“Encontramos muitos fatos que deixaram de ser analisados, muitas pistas que não foram seguidas. Então, decidimos que é necessário que se reabra esse inquérito”, afirmou a advogada Vera Franco.

Por causa do sigilo do inquérito, eles afirmam que não podem dar detalhes sobre o que é questionado pela família.

Comunidade ainda sente a perda

Ana Sophia desapareceu no dia 4 de julho de 2023, no Distrito de Roma, em Bananeiras. Dois anos após o crime, a comoção permanece na comunidade, que ainda guarda memórias da menina.

“Uma criança, ela vinha de vez em quando ela vinha comprar fazer compras aqui, comprar pães com as primas delas e ficou esse clima de tristeza, um local muito pequeno, onde todo mundo se conhece”, contou o empresário Washington Araújo.

“Ela brincava com a menina do outro vizinho de lá, mas nunca fez nada uma com a outra. Ia para o colégio e do colégio para aqui”, relembra a vizinha Severina Cardoso.

Relembre o caso


				
					Família de Ana Sophia pede reabertura da investigação: 'não tive chance de sepultar o corpo'
Tiago Fontes é o único suspeito do desaparecimento de Ana Sophia. Tiago Fontes é o único suspeito do desaparecimento de Ana Sophia

Segundo as investigações, Ana Sophia saiu de casa por volta das 12h e foi até a casa de uma amiga. No entanto, ao chegar lá, a menina não estava em casa, então ela voltou.

Por volta das 12h36, uma câmera de segurança filmou Ana Sophia passando na calçada de um mercadinho. Cerca de 150m adiante, um vulto foi visto entrando numa casa e, segundo análise da perícia, as medidas batem com a da criança. Já o local coincidia com a entrada da casa de Tiago Fontes. Esses foram os últimos registros dela em vida.

Tiago Fontes é o único suspeito do desaparecimento de Ana Sophia. O delegado Aldrovilli Grisi informou que a família de Ana Sophia vivia em um imóvel alugado pelo sogro de Tiago, que morava em frente à residência da família da menina. O suspeito frequentava a casa do sogro.

“Ele tinha conhecimento da rotina da família de Ana Sophia. E aí vem os detalhes, corroborados em depoimentos, de um olhar, de uma cultura injusta com a mulher”, disse Aldrovilli Grisi.

As investigações encontraram no celular de Tiago buscas sobre decomposição de corpo humano, estágios de putrefação e quanto tempo um fio de cabelo perde a capacidade de ser identificado por um DNA. O homem também buscou pelo caso da criança Júlia, da Praia do Sol, que foi encontrada num poço assassinada pelo padrasto.

A Polícia Civil concluiu também que o crime foi premeditado, após pesquisas encontradas no celular do investigado, que foi encontrado morto em novembro, conforme explicou o delegado Diógenes Fernandes, que também atuou nas investigações. “Tiago planejou o crime quatro meses antes. Em março ele já pesquisava como matar asfixiada uma criança de 7 anos, idade de Sophia na época”, informou o delegado.

No dia 12 de setembro, a Polícia Civil divulgou que Tiago Fontes estava desaparecido. Ele foi visto saindo de casa após uma vistoria realizada em sua residência, como parte das investigações.

Quase dois meses depois, em novembro, o corpo dele foi encontrado em uma área de mata em Bananeiras. Buscas por Ana Sophia chegaram a ser feitas no local, mas a menina não foi encontrada.

O corpo do suspeito foi encontrado sem sinais de hematomas ou perfurações, mas em avançado estado de decomposição, junto de uma garrafa de bebida alcóolica e uma cama feita com capim, numa área de mata fechada, por trabalhadores rurais. Nas palavras técnicas dos investigadores, ele cometeu uma “autoeliminação”.

Fonte: Jornal da Paraíba

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