A declaração do prefeito de Cabedelo, Vitor Hugo (Avante), criticando a imprensa por noticiar o pedido de sua prisão preventiva no âmbito da Operação “En Passant” e defendendo que os recursos destinados à mídia institucional sejam usados para produzir matérias favoráveis aos políticos, levanta um debate importante sobre a independência da imprensa e seu papel na democracia.
A liberdade de imprensa é um dos pilares fundamentais de qualquer sociedade democrática. Cabe aos jornalistas e veículos de comunicação apurar, investigar e divulgar informações de interesse público, mesmo que elas sejam desconfortáveis para aqueles que ocupam cargos de poder. Ao criticar a imprensa por divulgar o pedido de prisão preventiva, o prefeito parece ignorar que, ainda que o pedido tenha sido negado, a informação sobre sua existência é de grande relevância para a população, que tem o direito de ser informada sobre os desdobramentos de investigações envolvendo seus representantes.
A ideia de que os recursos públicos destinados à comunicação institucional deveriam ser usados exclusivamente para produzir conteúdos positivos sobre prefeituras ou campanhas de conscientização é equivocada. Esses recursos têm como objetivo informar a sociedade sobre ações e políticas públicas, e não promover governos ou censurar críticas legítimas. É fundamental que os veículos de comunicação mantenham autonomia editorial, mesmo ao receberem publicidade oficial.
A declaração do prefeito também toca em um ponto sensível ao trazer a questão familiar como argumento contra a divulgação de informações. É compreensível a preocupação com o impacto pessoal que uma notícia pode ter, mas isso não pode justificar a tentativa de deslegitimar a atuação jornalística. A transparência e o acesso à informação são mais importantes para a construção de uma sociedade justa e responsável do que a proteção de reputações individuais.
Organizações representativas da imprensa, como a AMIDI e a Associação Paraibana de Imprensa, podem ter papel importante neste momento ao reforçar a necessidade de defender o trabalho jornalístico contra pressões e tentativas de deslegitimação. Ao invés de criticar a mídia por cumprir seu papel, gestores públicos devem buscar esclarecer os fatos com transparência e respeito, reconhecendo que a imprensa livre é um aliado da democracia, e não um adversário.
Por fim, cabe lembrar que a responsabilidade de proteger a imagem e o legado de qualquer gestor público está na ética e na condução de suas ações. A imprensa não cria fatos; apenas os divulga. Se há desconforto com as notícias veiculadas, talvez o caminho seja a reflexão sobre as práticas de gestão e não o ataque a quem informa a sociedade.
Márcio Serafim