“Já tivemos negociações bem-sucedidas com os Estados Unidos”, diz Haddad sobre tarifa do aço

Brasil

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirme que recorrerá ao princípio de reciprocidade para taxar os produtos americanos, a prioridade neste momento são as negociações com os Estados Unidos para reverter às tarifas de importação impostas pelo presidente Donald Trump ao aço e ao alumínio brasileiros. Anunciadas no início de fevereiro, as taxas entraram em vigor nesta quarta-feira 12. A partir de hoje, os produtos siderúrgicos pagarão 25% para entrar no mercado americano, e o alumínio, 10%. “A mesa de negociação já está aberta com o governo americano”, afirmou Haddad em rápida conversa com jornalistas.

O ministro acrescentou que a negociação “foi bem-sucedida em outros momentos do passado recente, quando atitudes semelhantes foram tomadas e revertidas em benefício do comércio bilateral”. O exemplo citado por Haddad ocorreu em 2018, quando Trump, então em seu primeiro mandato, também estabeleceu uma tarifa de 25% sobre o aço nacional. Após conversas entre os dois países, a medida foi convertida em um sistema de cotas de importação. É justamente esse sistema que o republicano, em seu retorno à Casa Branca, revogou no mês passado, restabelecendo a tarifa de 25% idealizada sete anos atrás.

Haddad lembrou que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, tem liderado as conversas do governo com as siderúrgicas brasileiras, a fim de coletar sugestões de como lidar com a situação. “As empresas imaginando formas de negociar com argumentos muito consistentes, de que os Estados Unidos podem até perder, porque o nosso comércio é muito equilibrado e, na verdade, as nossas vendas não são revendas, como sugeriu o discurso oficial americano”, disse, referindo-se ao argumento utilizado por Trump para taxar as importações de aço: o de que países estavam fazendo uma triangulação comercial com a China, permitindo que o aço chinês entrasse no mercado americano a preços predatórios.

Por esse raciocínio, a China beneficiaria produtos semi-acabados em outros países que, então, serviriam de base de exportação de produtos siderúrgicos acabados para os Estados Unidos. “Nós não revendemos nada a partir do Brasil, e o que a gente importa de aço não tem nada a ver com o que a gente exporta de aço, nem faz parte do nosso, não é nem parte da cadeia de produção.”

Haddad observou que o Brasil exporta sobretudo produtos semi-acabados, como placas de aço, que são beneficiados em outros países, como as próprias siderúrgicas americanas. Em troca, o mercado brasileiro importa produtos acabados de aço. “Não faz o menor sentido sermos acusados de reexportar o que nós estamos importando”, diz. “Não teria nem lógica esse argumento.”

O ministro enfatizou que o principal interesse das siderúrgicas brasileiras “é negociar [com os Estados Unidos] e não retalhar ou [adotar] alguma medida mais dura de reciprocidade.” Ainda na conversa com os jornalistas, Haddad mostrou confiança no diálogo com Washington. “Já negociamos outras vezes em condições até muito mais desfavoráveis do que essa”, disse. “Vamos levar à consideração do governo americano que há um equívoco de diagnóstico e, de fato, os argumentos trazidos pela indústria brasileira são muito consistentes.”

Enquanto esperam que o governo convença Trump a rever as sobretaxas do aço e do alumínio, as siderúrgicas também pedem providências na outra ponta do mercado – o da importação predatória de aço asiático, sobretudo o da China. “Obviamente, a estratégia não pode ser a mesma, num caso [o das tarifas americanas] e no outro [o das importações para o Brasil], porque, no caso das exportações, envolve uma negociação. No caso das importações, envolve uma defesa mais unilateral.”

A preocupação com a invasão chinesa é um tema cada vez mais frequente nas manifestações das siderúrgicas brasileiras. Ontem, após a cerimônia de inauguração da ampliação do laminador a quente da usina da Gerdau em Ouro Branco (MG), que contou com a presença de Lula, Alckmin e Haddad, o presidente da empresa, Gustavo Werneck, afirmou aos jornalistas que é “impossível que um aço chegue ao Brasil com preço mais baixo que o minério de ferro que eles [os chineses] compram”.

Werneck acrescentou que o setor apresentou a Alckmin diversas propostas, que vão do aumento da tarifa sobre a importação de aço até a revogação das taxas diferenciadas que incidem sobre as cotas de cada país. O executivo lembrou que, historicamente, o aço importado detém uma fatia de 11% do mercado interno, mas, nos últimos tempos, ela saltou para 25%.

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