A Justiça do município do Conde, no litoral sul da Paraíba, determinou a reconstituição da chacina em que seis policiais militares são suspeitos de matar cinco jovens, em fevereiro deste ano. Até agora, cinco dos agentes estão presos de forma temporária, e um sexto está fora do país.
De acordo com a decisão que prendeu os policias, à qual a TV Cabo Branco teve acesso, assinada pela juiza Lessandra Nara Torres Silva, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) será a responsável pela realização da reconstituição. No entanto, ainda não há uma data prevista para isso.
A magistrada detalha que a reconstituição deve ser feita com a participação dos investigados e de outros policiais que chegaram posteriormente ao local do evento.
No documento, a juiza também determina que os materiais apreendidos junto aos investigados, como celulares, devem ser “destravados” e um laudo pericial acerca do conteúdo dos aparelhos deve ser feito pela polícia. Ela dá um prazo de 10 dias para isso acontecer.
O Ministério Público da Paraíba (MPPB) aponta indícios de homicídio por parte dos policiais, presos na segunda-feira (19), e a defesa dos investigados alega que um grupo criminoso formado pelas vítimas à época buscava vingança após um feminicídio na cidade e que teriam atirado contra os policiais que reagiram.
Em nota, a defesa dos policiais investigados afirmou que eles são inocentes.
Os policiais investigados pela suspeita da chacina no Conde
Foram presos na manhã da segunda-feira (19), os seguintes policiais pela suspeita do crime:
- Soldado Mikhaelson Shankley Ferreira Maciel
- Sargento Marcos Alberto de Sá Monteiro
- Sargento Wellyson Luiz de Paula
- Sargento Kobosque Imperiano Pontes
- Cabo Edvaldo Monteval Alves Marques
O Tenente Álex William de Lira Oliveira, que também foi homenageado e alvo de mandado de prisão preventiva, está em viagem nos Estados Unidos, e o mandado de prisão preventiva contra ele não foi cumprido.
Ministério Público aponta indícios de homicídio

O Ministério Público da Paraíba investiga se seis policiais militares cometeram fraude processual e ocultação de provas durante a morte dos cinco jovens na Ponte dos Arcos, em Conde.
Segundo o pedido de prisão temporária, há indícios de homicídio baseados em depoimentos de testemunhas e laudos periciais. O documento aponta que, no momento do crime, os jovens não teriam oferecido qualquer possibilidade de reação.
A defesa dos policiais, representada pelo advogado Luiz Eduardo, afirma que os policiais realizavam um “checkpoint” e reagiram a tiros disparados pelos ocupantes dos veículos. Os jovens feridos teriam sido levados a uma unidade hospitalar, onde acabaram morrendo.
O comandante-geral da Polícia Militar da Paraíba, coronel Sérgio Fonseca, afirmou acreditar na versão dos policiais, mas disse que, caso a investigação comprove outra versão, os envolvidos serão responsabilizados.
O Ministério Público aponta que os policiais teriam removido os corpos das vítimas do local do crime, todos com ferimentos letais na cabeça, e utilizado fuzis de alto poder de destruição. Os veículos das vítimas também foram retirados da cena e levados para a Central de Polícia, em João Pessoa, antes que a Polícia Civil fosse acionada para realizar a perícia técnica.
Durante a investigação, uma testemunha relatou que os policiais usavam máscaras e recolheram cápsulas no local do crime. Outro depoimento registrou que um testemunha ocular, que ainda não foi identificada, descreveu que dois jovens estavam fora do carro com as mãos na cabeça, um dentro do veículo e dois no chão, enquanto policiais apoiavam os pés sobre seus pescoços.
Um laudo pericial apontou que os carros em que os jovens estavam foram atingidos por mais de 90 tiros: 74 em um veículo e 18 no outro, todos disparados de fora para dentro. Embora três armas tenham sido supostamente apreendidas com os jovens, apenas duas estavam aptas a disparar, com seis cartuchos já deflagrados.
A perícia ainda ressalta que, sem análise completa no local, não seria possível afirmar com certeza se houve disparos de dentro para fora dos veículos.
Entenda o caso

O caso que resultou na operação da segunda-feira (18), aconteceu na noite do dia 15 de fevereiro de 2025. Segundo a Polícia Militar, os cinco jovens, com idades entre 17 e 26 anos, estavam se preparando para fazer um ataque no Conde, para vingar um feminicídio cometido horas antes.
Na mesma data, uma mulher havia sido morta por ter encorajado uma amiga, vítima de violência, a se separar do marido. O homem, com raiva, matou a mulher como vingança.
Então, de acordo com a PM, o filho da vítima reuniu amigos para vingar o assassinato. Eles estavam em dois veículos e foram interceptados por viaturas da Polícia Militar. Ao passar pela Ponte do Arco, o carro foi atingido por vários tiros, o que resultou nas mortes de todos os ocupantes.
Os policiais militares trabalham no 5º Batalhão da Polícia Militar de João Pessoa e atuavam na Zona Sul da capital.
Segundo informações da TV Cabo Branco, um dos policiais prestava serviços informais ao influenciador Hytalo Santos, preso na última sexta-feira (15), em São Paulo, suspeito de tráfico humano e exploração sexual infantil. Apesar disso, a operação não tem relação com a investigação contra o influenciador.
Os demais policiais estão sendo investigados para verificar se também há também essa relação.