A vereadora Raíssa Lacerda (PSB) voltou nesta terça-feira (15) à Câmara Municipal de João Pessoa, onde usou a tribuna para questionar sua prisão no contexto da Operação Território Livre da Polícia Federal. A investigação apura suposto aliciamento de eleitores em troca de votos. Em seu discurso, a parlamentar se disse vítima de uma injustiça e acusou o presidente da Casa, Dinho Dowsley (Avante), de ser o verdadeiro responsável pelo caso, alegando que alguns dos envolvidos na operação seriam seus assessores.
“Quem deveria ter sido preso era Dinho”
Raíssa argumentou que sua prisão foi desnecessária e citou nomes de apoiadores próximos a Dinho que, segundo ela, estariam envolvidos no esquema investigado. “O que mais me chamou a atenção foi ser presa com três assessores do presidente da Casa”, disse Raíssa. Entre os nomes mencionados estão Pollyana Dantas e Taciana Nascimento, que atuam no Bairro São José, e um conselheiro tutelar, identificado como Josivaldo, também ligado ao presidente.
“A maior apoiadora de Dinho dentro do São José é Pollyana, e ela me proibiu de entrar lá. Isso saiu até no Fantástico. Não sou eu que estou dizendo, é a Polícia Federal”, afirmou Raíssa, defendendo que sua prisão foi desproporcional.
Confronto no plenário
Em resposta às acusações, Dinho Dowsley, que presidia a sessão, alertou que Raíssa estava descumprindo uma medida cautelar ao fazer uso da tribuna. “Vossa excelência nem poderia estar falando no pequeno expediente. Agora que falou, terá que provar tudo o que disse”, rebateu Dinho, deixando claro que irá buscar reparação na Justiça pelas alegações feitas.
Antes de encerrar a sessão, Dinho voltou a enfatizar que não admitirá que seu nome seja envolvido sem provas. “Tenho direito à defesa e respeito pelo momento difícil da vereadora, mas nunca subirei nesta tribuna para acusar qualquer colega sem fundamento. Vou buscar a Justiça, pois não tenho nenhum processo contra mim, e o que foi dito aqui precisa ser provado.”
Novas buscas e mais suspeitas: Operação Livre Arbítrio
Coincidentemente, nesta sexta-feira (18), a Polícia Federal deflagrou a Operação Livre Arbítrio, mais uma fase das investigações em torno da possível influência de uma facção criminosa nas eleições de João Pessoa. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão na capital, incluindo na residência de Dinho Dowsley. Pollyana Monteiro e Taciana Batista, já presas em fases anteriores da Operação Território Livre, também foram alvo de buscas.
De acordo com a PF, “todos os investigados submetidos às buscas serão monitorados eletronicamente”. As investigações, conduzidas com apoio do GAECO/PB, apuram se grupos criminosos atuaram por meio de ameaças e controle territorial para coagir eleitores e influenciar o pleito. Entre os crimes investigados estão constituição de organização criminosa, coação de votos, lavagem de dinheiro e peculato.
Dinho nega envolvimento e se diz alvo de perseguição
Em nota divulgada após as novas buscas, Dinho Dowsley negou qualquer envolvimento com os fatos investigados, classificando as acusações como “ilações maliciosas com motivações eleitoreiras”.
“Tenho 20 anos de vida pública e cinco mandatos sem nenhuma denúncia ou processo contra mim. Sempre fui bem votado e reconhecido pela população de João Pessoa. Apoio as investigações e me coloquei à disposição da Justiça desde o início. Tenho plena confiança de que minha inocência será provada”, declarou Dinho.
Contexto das investigações e próximas etapas
A Operação Território Livre tem como foco a manipulação de votos por meio de violência e ameaças durante o período eleitoral. Raíssa Lacerda havia sido presa preventivamente em 19 de setembro, mas conseguiu liberdade provisória, condicionada ao uso de tornozeleira eletrônica e outras medidas cautelares. Um pedido de sua defesa para revogar essas medidas foi negado pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB).
Com o avanço das investigações e o surgimento de novos nomes, a situação pode tomar novos desdobramentos nos próximos dias. Enquanto Raíssa Lacerda busca limpar seu nome e Dinho Dowsley defende sua integridade, ambos os parlamentares terão que responder às acusações, agora sob o olhar atento da Justiça e da opinião pública.
Nota na íntegra de Dinho Dowsley
“Tenho sido alvo, nos últimos dias, de ilações maliciosas envolvendo meu nome com motivos meramente eleitoreiros. Tenho 20 anos de vida pública, com cinco mandatos dedicados à população de João Pessoa, sem nenhum processo, denúncia ou indiciamento. Sempre fui bem votado nos bairros da capital e tive meu trabalho referendado pela força da aprovação popular.
No que se refere à atuação da Polícia Federal, relacionada à operação Território Livre, deixo claro que apoio à investigação e esclareço que me coloquei desde o início à disposição para explicações sobre eventuais citações levianas ao meu nome. Confio na Justiça dos homens e de Deus e estou certo de que ficará patente a minha inocência, já que não há qualquer envolvimento meu nos fatos investigados.”
Com o acirramento das investigações e as acusações públicas, a disputa na Câmara Municipal de João Pessoa ganha novos contornos, colocando dois dos principais nomes do cenário político da capital sob forte escrutínio.