O Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (GAECO), do Ministério Público da Paraíba, apresentou à Justiça mais uma denúncia no caso Padre Zé, que investiga um esquema de desvio de recursos estimado em R$ 140 milhões no Hospital Padre Zé e instituições vinculadas à unidade durante a gestão anterior.
Entre os denunciados estão a atual secretária de Desenvolvimento Humano do Estado, Pollyanna Dutra, o ex-secretário da pasta e atual secretário de Administração, Tibério Limeira, e outras 14 pessoas, incluindo um gestor responsável pelos contratos firmados pelo governo estadual com as instituições investigadas. O padre Egídio de Carvalho Neto, ex-diretor do hospital, também figura entre os denunciados.
Denúncia de organização criminosa
O Ministério Público aponta a existência de um esquema de pagamento de propina, denominado “devoluções”, em que empresas fornecedoras de produtos ao hospital e ao Programa Prato Cheio eram obrigadas a repassar valores ilícitos aos gestores. Segundo a investigação, Tibério Limeira e Pollyanna Dutra teriam recebido pagamentos irregulares por meio de intermediários.
O MP-PB esclarece que a atual denúncia trata especificamente da acusação de organização criminosa, conforme o artigo 2º da Lei nº 12.850/13. Os demais crimes que teriam sido cometidos dentro do esquema serão objeto de outras ações penais.
Propina e provas materiais
A denúncia detalha episódios de supostos repasses ilícitos. Um deles descreve a entrega de R$ 50 mil a um motorista de Tibério Limeira, registrada por uma fotografia tirada pela ex-diretora do hospital, Amanda Dantas. Cadernos de anotações apreendidos na tesouraria do Hospital Padre Zé indicam pagamentos recorrentes a diversos envolvidos no esquema.
Em uma conversa interceptada pelos investigadores, padre Egídio teria orientado Amanda Dantas a separar R$ 50 mil para Tibério Limeira e R$ 70 mil para Pollyanna Dutra. A diferença entre os valores teria sido justificada pelo aumento do número de municípios atendidos pelo Programa Prato Cheio.
Os contratos sob investigação incluem 14 termos de colaboração firmados entre 2021 e 2023 para o Programa Prato Cheio, com vigência de até seis meses e um total de recursos liberados de R$ 21,1 milhões. Destes, R$ 18,4 milhões teriam sido destinados a empresas ligadas a Kildenn Tadeu, algumas criadas no mesmo ano de participação nos contratos.
Respostas dos envolvidos
A secretária Pollyanna Dutra afirmou, por meio de nota, que ainda não foi notificada oficialmente sobre a denúncia. Ela destacou que sempre teve uma conduta “retilínea” na vida pública e que provará sua inocência caso a denúncia seja confirmada.
Tibério Limeira também divulgou nota alegando que nunca foi chamado pelo Ministério Público para prestar esclarecimentos e que a denúncia é baseada em manuscritos sem validade legal. Ele afirmou confiar na Justiça e reafirmou que sua trajetória sempre foi pautada pela ética e responsabilidade pública.
O advogado de defesa do padre Egídio, Luciano Santoro, disse que ainda não teve acesso à denúncia, mas criticou o sigilo dos autos, impedindo o conhecimento dos fatos pelos acusados.
Lista dos denunciados
- Egídio de Carvalho Neto
- Jannyne Dantas Miranda e Silva
- Amanda Duarte Silva Dantas
- Andrea Ribeiro Wanderley
- Carlos Tibério Limeira Santos Fernandes
- Yasnaia Pollyanna Werton Dutra
- Iurikel Souza Marques de Aguiar
- Kildenn Tadeu Morais de Lucena
- Sebastião Nunes de Lucena
- Sebastião Nunes de Lucena Júnior
- Mariana Ines de Lucena Mamede
- Maria Cassilva da Silva
- José Lucena da Silva
- João Ferreira de Oliveira Neto
- Fillype Augusto Lima Bezerril
- João Diógenes de Andrade Holanda
A investigação segue em andamento e novos desdobramentos poderão surgir com o avanço das ações penais relacionadas ao caso.