Uma atmosfera de medo tomou conta dos consumidores de bebidas alcoólicas em todo o Brasil após a recente onda de intoxicações por metanol. O susto completou um mês no dia 26 e tem afetado não apenas os amantes de destilados, mas também quem vive da produção deles.
Na Paraíba, os donos de engenhos de cachaça sentem o impacto. Segundo Maria Júlia, diretora executiva do Engenho Triunfo (responsável pela cachaça de mesmo nome), as vendas caíram cerca de 30% desde o início da polêmica.
Para o químico responsável da Triunfo, Thiago Henrique, o medo é infundado — especialmente quando se trata da cachaça produzida de forma legalizada.
“Primeiramente é bom esclarecer que produzimos cachaça, e que não existe produção de metanol nos engenhos. A cachaça tem em sua composição o etanol, o álcool ‘bom’, obtido pela fermentação natural do caldo de cana”, explica.

O químico também ressalta a importância das Boas Práticas de Fabricação, que garantem a qualidade e a segurança do produto:
“A cana precisa ser cortada crua, moída em até 24 horas e fermentada em tanques higienizados. Depois, o vinho é destilado em alambiques de cobre, e só a fração chamada coração serve para elaborar uma boa cachaça. É nessa parte que estão os compostos que dão sabor e segurança à bebida.”
Segundo ele, engenhos registrados no Ministério da Agricultura são fiscalizados e seguem todos os padrões legais. O problema, afirma, está na produção clandestina, que não passa por controle de qualidade.
“Essa é a hora da fiscalização agir sobre os pontos de venda onde existem cachaças sem registro. Vender em garrafa pet é crime contra a saúde pública. Não há como garantir o que está dentro de uma garrafa clandestina.”

Outro produtor paraibano, Álvaro Borba, das cachaças Cobiçada e Serra Velha, também confirma o impacto. Ele explica que nenhuma indústria de bebida séria fabrica metanol no Brasil.
“O metanol é importado, usado principalmente para mistura em combustíveis. O que acontece é que falsificadores compram álcool de posto e o usam para fabricar bebidas ilegais. Foi isso que causou as mortes agora, como também aconteceu em 1993, na Bahia”, lembra.
Álvaro destaca que a certificação é o principal selo de segurança para o consumidor:
“Todo rótulo de cachaça legalizada tem CNPJ, número de registro no Ministério da Agricultura e selo fiscal na tampa. Essa é a garantia de que o produto é seguro. Cachaça sem esses itens não deve ser consumida.”
Projeto de lei
Enquanto o setor tenta se recuperar, o Congresso Nacional reage. A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que endurece as penas para falsificação de bebidas, alimentos e suplementos alimentares, transformando em crime hediondo os casos que resultem em morte ou lesão grave, como as recentes intoxicações por metanol que causaram 15 mortes no país. O texto segue agora para o Senado.
Relatado por Kiko Celeguim (PT-SP), o projeto prevê reclusão de 5 a 15 anos quando houver morte e mantém a pena de 4 a 8 anos para adulterações que tornem o produto nocivo à saúde, com agravante em caso de lesões graves. A proposta também cria um sistema nacional de rastreamento da produção e circulação de bebidas alcoólicas, obriga o recolhimento de garrafas não retornáveis e proíbe que condenados por falsificação voltem a atuar no setor. Além disso, aumenta a pena para crimes ligados a combustíveis, já que o metanol usado nas bebidas adulteradas teria origem em postos de gasolina.
FontePB, com Polêmica Paraíba


